terça-feira, 6 de abril de 2010

Naná: ao longe o cheiro sincero da amizade que se insinua

Todas as quintas e sextas-feiras, antes que a tarde se despeça do dia e, triunfantemente, anuncie o início singelo da noite que se principia, uma ansiedade toma conta de mim. Uma força inexplicável me domina a ponto de fazer com que me distancie do conteúdo que ministro e volte minha atenção para o horizonte.
Como já é de costume, busco ao longe a imagem da amiga, da contagiante e incrível pessoa que não cansa de ensinar que a vida ao lado dos amigos tem um sentido diferente tornando útil nossa existência. Vejo, do alto do primeiro andar, Naná. Envolvida pelas vestes que a diferenciam de muitos profissionais (trajes de PROFESSORA), e sua presença na simples escadaria anuncia que sua jornada diária findou-se, seu compromisso com as crianças, pelo menos naquele dia, estava cumprido.
Mas, não é só isso que me proponho a narrar, revelo que o acenar clássico que nos envolve, faz com eu, lá do alto, envie beijos e acenos, fazendo mensageiro e portador o vento que os levam em quantidade imensurável. Além dos repetidos, e não menos sinceros, acenos e beijos, do outro lado, o ritual também se repete só que eles vêm em sincronia e aos montes. Os mais diversos beijos e gestos se misturam e me chegam num emaranhado sutil e gracioso carregando muita simbologia. Naná, em gestos delicados e cuidadosos recebe, com o encanto de uma criança, os sinais míticos encaminhados. E sobre eles, lança cuidado e zelo como quem tem medo de perdê-los. Mas será medo ou excesso de atenção para com nobres e verdadeiros gestos? Ao certo não sei o que se passa, limito-me, apenas, em admirar tão longos e cuidadosos afagos. De lá, e não menos importantes, vejo trazidos, pelo leve toque da brisa, os beijos e gestos que denunciando a angelical ternura escancarada em demonstrações que transcendem qualquer explicação ou entendimento.
O que faz pessoas, que há tão pouco tempo se conhecem, externem tão sinceros e francos sentimentos? Vidas passadas que hoje entrelaçadas pela amizade, se permitem prolongar o que foi interrompido em outras existências? Ao certo não sei. Sei que é bom e que é sincero e que sempre que eu a encontrar e que nosso contato estiver próximo e apenas poucos metros apenas nos separem, eu irei repetir, como sempre fiz, a cena, em câmera lenta, do nosso abraço caloroso e que já se tornou marca registrada.
Dizer que as lágrimas não estão sento contidas, durante a escrita deste texto, seria negar o desejo de deixá-las à vontade. Mesmo assim as contenho e impeço com sofreguidão que o pranto inunde a fase que por repetidas vezes demonstrou se alegrar com sua presença.
Com os carinhos de sempre.
Erasmo Amorhim.